Notas |
- Dom Álvaro Vaz de Almada ou Álvaro Vasques de Almada KG (1390 - 20 de Maio de 1449), foi o primeiro conde de Abranches (no original francês Avranches, mas, sempre dito Abranches em Portugal, nomeadamente na carta de reconhecimento do título. Ainda assim é possível encontrá-lo em escritos antigos como Davarans1 ou Abranxes e até no estrangeiro como Branches, sem o A inicial.)
Foi dos únicos estrangeiros que não da realeza a ser agraciado cavaleiro da Ordem da Jarreteira, a mais nobre ordem da Inglaterra2 .
É considerado o último a usar o título medieval de Rico-Homem em Portugal e, fazendo parte do Concelho Régio, exerceu o lugar de Capitão-mor do Reino e do Mar3 , a partir de 23 de Julho de 1423 por D. João I e confirmado pelo filho D. Duarte de Portugal em 5 de Julho de 14344 . Em 5 de Abril de 1440, foi nomeado Alcaide-mor da capital, Lisboa5 6 7 .
Biografia
Nota bancária de 5 escudos de 1925 com o retrato de D. Álvaro Vaz de AlmadaEra filho de João Vaz de Almada e de sua mulher Joana Anes. Os Almadas não eram de sangue nobre, mas descendente de uma família de comerciantes que fez sua fortuna no comércio exterior8 . A família residia principalmente em Lisboa e Algés. Álvaro tinha um irmão mais novo chamado Pedro Vaz de Almada e dois meio-irmãos, nascidos fora do casamento, por uma mãe desconhecida: João Vaz de Almada, 1 º Senhor de Pereira (nascido c.1400) e Brites de Almada.
Em uma idade precoce, Álvaro acompanhou seu pai ao Reino da Inglaterra. Ambos disseram ter lutado na Guerra dos Cem Anos e construiu um relacionamento com o rei Henrique V de Inglaterra, antes de retornar a Portugal no início de 1415.
Em 4 de Julho de 1436, o rei D. Duarte tinha enviado uma missiva a ele, D. Álvaro capitão-mor e enquanto Couteiro-mor do termo Lisboa, limitando-lhe o número de couteiros de perdizes em Lisboa em seis9 .
Em 23 de Julho de 1437 partiu na desastrosa expedição de Tânger e aí, juntamente com Vasco Coutinho, cobriu depois a retirada que os portugueses se viram forçados, para que todos que estavam com ele pudessem embarcar salvos10 .
Cota d´armas de Álvaro Vaz de Almada, 1.º Conde de Avranches, envolta com o cinto da Ordem da JarreteiraPela mão de Henrique VI da Inglaterra recebeu o título de conde de Avranches (Earl of Avranches), título que lhe foi oferecido por carta de 4 de Agosto de 1445, pelo seu nobre comportamento generalizado e pela sua actuação exemplar na corte do mesmo e na guerra contra França, na Guerra dos Cem Anos, que essa dinastia lutava pela posse das terras quais se achava no direito, nomeadamente da Normandia, das quais Avranches fazia parte11 . Julga-se que já antes, em 1415, tinha participado na batalha de Azincourt desse lado12 .
Pode-se dizer que ele «encarnou» completamente o espírito de cavalaria medieval, que se ainda vivia na época no Ocidente e não só, e através da sua vida podemos ver o muito que ela continha. Isso na forma de pensar, pelo que se debateu e como agiu nas várias circunstâncias, e como os outros reagiram.
Brasão de D. Álvaro Vaz de Almada (nº162) no tecto do Galeria de St. George no Palácio de Windsor.Segundo o mito, foi um dos Doze de Inglaterra que ganharam em torneio os cavaleiros britânicos que tinha ofendido as respectivas doze damas inglesas que tinham sido ultrajadas pelos segundos.
É reconhecido, nas antigas descrições e pelos historiadores, que terá sido o maior amigo do Infante D. Pedro e que o acompanhou a várias cortes estrangeiras. Assim como, tudo faz indicar que terão lá combatido juntos, contra "os turcos", auxiliando o imperador Segismundo da Hungria13 , na defesa das fronteiras da Europa e contribuindo fortemente com para que se fizessem várias alianças com o seu país, o reino de Portugal.
Sempre fiel a ele, ao infante, já em Portugal e passados vários anos, em 1449, quando este já não pode mais suportar as afrontas que lhe eram dirigidas pela sua regência por parte dos seu rivais sediados na corte em Lisboa que o tinham difamada e posto o rei contra ele, e querendo demonstrar a retidão do seu procedimento, acompanhou-o quando decidiu sair de Coimbra para os confrontar. Depararam-se, no caminho, com as tropas de D. Afonso V, tendo se registrado a luta em Alfarrobeira, próximo de Vila Franca de Xira. Vindo ambos a perecer precisamente nessa Batalha de Alfarrobeira.
Segundo conta a crónica, morre heroicamente com um brado da sua boca sabendo da sua "sorte" e que não podia fugir a ela para não cair em desonra, por ter feito um pacto de sangue com o seu "príncipe" e maior amigo antes dela começar, que desde então ficou célebre: "Meu corpo sinto que não podes mais, e tu, minh'alma já tarda; é fartar vilanagem".
Já antes igualmente demonstrando honra e carácter cavaleiresco, de acordo como o ideal de cavalaria aristocrático de então, o seu discurso a quando da partida para encontro fatídico em Alfarrobeira tinha sido:
Antes morrer grande e honrado, que vyver pequeno e dshonrado, e que pêra ysso vistissem todos, os corpos de suas armas, e os coraçoões armassem pryncipalmente de muyta fortalleza, e que se fossem camynho de Santarém nam como gente sem regra desesperada nem leal, mas como homens d’acordo, e que hiam sob governança e mando, de hum tal pryncepe e tal Capytam, que a ElRey seu Senhor sobre todos era mais leal e servydor mais verdadeiro, e que mandasse a ElRey pedir e requerer, que com justiça o ouvysse com seus ymigos, que lhe tam sem causa tanto mal hordenavam, ou lhe desse com elles campo, em que de suas falsydades e enganos, elle por sua lympeza e lealdade faria que se conhecessem e desdysessem. E que quando ElRey alguma destas cousas nom ouvesse por bem, e todavia quysessem. E que quando ElRey alguma destas cousas nom ouvesse por bem, e todavia quysesse vir sobre elle, que entam defendedosse morressem no campo como bons homens e esforçados cavalleiros14 .
Propriedades[editar | editar código-fonte]No pequeno espaço intra-muros de Lisboa, num espaço coutado na freguesia da Sé, perto da corte e Paço Real, havia o Bairro do Couto de Abranches que terá nascido na sequência da promoção sócio-económica dos Almadas na cidade, que era propriedade do referido conde15 .
Outra propriedade hoje na mesma cidade, mas em extra-muros, era onde está o Palácio Valada-Azambuja, situado no Largo do Calhariz, na freguesia de São Paulo, existia uma casa e quinta do D. Álvaro Vaz de Almada antes dele morrer na Batalha de Alfarrobeira e transitar para a família dos Távoras em 144916 .
A 7 de Janeiro de 1434 o rei D. Duarte confirma-lhe um casal no reguengo de Algés, que já fora de seu pai João Vaz de Almada que o tivera em dote de casamento de seu sogro João Anes.
Casamentos e descendência
Foi casado, em primeiras núpcias, com Isabel da Cunha, filha de D. Álvaro da Cunha (senhor de Pombeiro da Beira) e de Beatriz Martins de Mello. Dessa união nasceram:
D. João de Abranches (1420) casado com D. Mécia da Cunha.
D. Isabel da Cunha ou Isabel d`Abranches casada com Álvaro Pessanha17 , filho bastardo de Carlos Pessanha, 6º almirante de Portugal18 .
D. Leonor da Cunha
D. Violante da Cunha (1430) casada com Fernão Martins de Mascarenhas (capitão de ginetes de D. João II), 1º senhor de Lavre e Estepa, comendador de Mértola e Almodovar19 .
D. Brites da Cunha
Em segundas núpcias, casou-se com D. Catarina de Castro, filha de D. Isabel de Ataíde e de D. Fernando de Castro, (senhor do Paul de Boquilobo e da quinta da Penha Verde em São Martinho (Sintra), filho de D. Pedro de Castro conde de Arraiolos20 ]). Dessa 2.ª união nasceu:
D. Fernando de Almada (1443), 2º e último conde de Abranches, casado com D. Constança de Noronha.
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